Enquanto todos dormem em Tatooine
"Não, amigo. Eu não sou um Jedi. Meu rosto por si só já denuncia minha trivial posição de homem do campo. É desagradável olhar nos meus olhos. Eu sei. Às vezes nem mesmo eu suporto encarar um espelho de metal polido. As rajadas de areia e o trabalho forçado adiantaram o serviço que a princípio pertencia ao tempo.
Trabalho duro nas minas de um metal que nem sei ao menos o nome. Assim como não lembro o meu.
Na verdade imagino ser algum tipo de inibidor de memória que inseriram no meu cérebro ou qualquer coisa do gênero.
O mais importante nisso tudo é que estou tranqüilo. Não plenamente, mas o suficiente para que não influencie minha cabeça e eu cometa alguma besteira. Sempre que penso em fugir a cicatriz que cobre o meu rosto dói. Bem debaixo das próteses droids que substituem meu olho e maxilar.
Está aí outra coisa que me faz pensar naqueles inibidores de memórias!
...
Não. É besteira pensar nisso. Nem imagino porque, mas tenho certeza que é besteira.
Entretanto, a única coisa em que consigo concentrar meus pensamentos é: eu não sou um Jedi. Nunca consigo parar de pensar nisso. E meus pensamentos sempre vêm seguidos de outros como: qual a minha importância nesse mundo religioso que chamam de Força?
Não consigo evitar. Perdoe-me.
Fico pensando no quanto minha maldita condição é importante pra que a própria Força continue me ignorando, se é que de alguma forma pode me incluir nesse clube cósmico. No quanto a minha morte incomodará a sua tão soberba existência.
Não sou um Jedi escolhido de membros decepados.
Não sou um planeta inteiro explodindo no vácuo e morrendo sem nenhum último ruído ou suspiro.
Ou será que tenho que ser pra possuir ao menos uma fração de importância no cosmo?
Ah, memória. Se não me traisse...
Se existir algo que me faça parar de chorar todas as noites pela falta de memórias e casaço nos ossos, por favor, que venha logo, nem que seja na forma da morte, porque nem todos dormem a noite em Tatooine."