Wednesday, March 26, 2008

Enquanto todos dormem em Tatooine

"Não, amigo. Eu não sou um Jedi. Meu rosto por si só já denuncia minha trivial posição de homem do campo. É desagradável olhar nos meus olhos. Eu sei. Às vezes nem mesmo eu suporto encarar um espelho de metal polido. As rajadas de areia e o trabalho forçado adiantaram o serviço que a princípio pertencia ao tempo.
Trabalho duro nas minas de um metal que nem sei ao menos o nome. Assim como não lembro o meu.
Na verdade imagino ser algum tipo de inibidor de memória que inseriram no meu cérebro ou qualquer coisa do gênero.
O mais importante nisso tudo é que estou tranqüilo. Não plenamente, mas o suficiente para que não influencie minha cabeça e eu cometa alguma besteira. Sempre que penso em fugir a cicatriz que cobre o meu rosto dói. Bem debaixo das próteses droids que substituem meu olho e maxilar.
Está aí outra coisa que me faz pensar naqueles inibidores de memórias!
...
Não. É besteira pensar nisso. Nem imagino porque, mas tenho certeza que é besteira.
Entretanto, a única coisa em que consigo concentrar meus pensamentos é: eu não sou um Jedi. Nunca consigo parar de pensar nisso. E meus pensamentos sempre vêm seguidos de outros como: qual a minha importância nesse mundo religioso que chamam de Força?
Não consigo evitar. Perdoe-me.
Fico pensando no quanto minha maldita condição é importante pra que a própria Força continue me ignorando, se é que de alguma forma pode me incluir nesse clube cósmico. No quanto a minha morte incomodará a sua tão soberba existência.
Não sou um Jedi escolhido de membros decepados.
Não sou um planeta inteiro explodindo no vácuo e morrendo sem nenhum último ruído ou suspiro.
Ou será que tenho que ser pra possuir ao menos uma fração de importância no cosmo?
Ah, memória. Se não me traisse...
Se existir algo que me faça parar de chorar todas as noites pela falta de memórias e casaço nos ossos, por favor, que venha logo, nem que seja na forma da morte, porque nem todos dormem a noite em Tatooine."

Sunday, March 16, 2008

Os pés em cima da areia... ( o pó ).



“”Olho sobre o horizonte nada mais que o mormaço presunçoso dançando sobre a areia. O mundo também é um punhado de areia dançando pra uma coisa maior, não é?” Sei lá.
Ser um homem isolado, vagando nesse terreno árido e selvagem não me faz de forma alguma um pensador ou Jedi importante. Isso devia ser bom, não é? Posso ficar daqui só atirando minhas dúvidas, numa velocidade tão lenta que qualquer cruzador galáctico passeando lá em cima às tornarão insignificantes.

Perfeito. Assim minha vista vazia do horizonte não vai ser desobstruída nunca, aposto... posso ficar aqui, só olhando o destino de cada erupção que as rajadas de vento produzem no oceano de areia... e mais e mais dunas se formam.

A superfície arenosa e áspera desse lugar é fantástica. Você realmente se acha forte? Venha à Tatooine e ela mesma provará e dirá se realmente o é.
Não meu amigo! De maneira alguma desejo desafiá-lo para alguma espécie de duelo! Eu não, mas constantemente, ela, a grande Tatooine, sussurra nos ouvidos de qualquer um que queira se aventurar por entre seu sensível e desolado seio.
Por que estou aqui, você deve estar pensando? Vagando dia após dia, de poente a poente, debaixo de dois sois que não param de torrar a pele.

Por quê? 
Eu poderia enganá-lo por mais dois parágrafos dizendo da essência infinita nessa solidão, que nem o espaço pode me proporcionar, e aqui, justamente em Tatooine é onde está... Por que me fadei a fome, calor e calos rachados nos pés? Não saberia responder. Não sei mesmo o porquê. Como já disse, não sou nenhum pensador pra ficar me preocupando com esse tipo de tolices, e sabe o que mais? Eu vou seguindo meu caminho e deixando vocês por aqui mesmo... Tenho um longo e largo caminho pra correr até que essas aves parem de comer aquela carcaça de droid antes de virem certificar-se se não sou digno de ser fatiado pelas suas presas .
Agora você entendeu porque acabei tão rápido. Vida longa aos andarilhos loucos de Tatooine!”